Sempre que as temperaturas descem, chovem avisos, alertas, conselhos, recomendações para enfrentar o frio. Se é tão inevitável como os invernos, porquê tanto alarido? É que o nosso corpo “avaria” a temperaturas muito baixas e Portugal é o país onde mais idosos morrem, simplesmente, com frio. Por exemplo.
Como o corpo reage à descida da temperatura
Em ambientes de frio moderado o corpo consegue adaptar-se, a temperatura interna raramente desce mais que um ou dois graus abaixo do seu ideal que ronda os 37 ºC.
A exposição prolongada a temperaturas muito baixas torna-se perigosa quando o corpo arrefece abaixo dos 35ºC. Pode acontecer rapidamente, por exemplo, devido a queda em água gelada, contacto com neve ou com gelo. Também pode ser consequência de uma exposição prolongada ao frio, à chuva ou ao vento. Nestas circunstâncias pode haver queimaduras nas extremidades.
O mecanismo de regulação interna da temperatura passa pela contração dos vasos sanguíneos. Quando este mecanismo é incapaz de manter o calor surgem os tremores. Treme-se de frio quando os músculos se contraem para gerar calor. Se também este mecanismo falhar, o corpo é incapaz de se manter quente e entra em hipotermia.
Hipotermia ligeira a moderada
Entre os 30ºC e os 35ºC
O pulso e a respiração aceleram. Num esforço para gerar calor há contração involuntária dos músculos, ou seja, tremores.
À medida que a temperatura cai podem surgir sinais de irritação, cansaço, dificuldade de movimento e alterações na linguagem.
Um teste simples é tentar que a pessoa caminhe 10 metros em linha recta. Caso não seja capaz pode ter entrado em hipotermia.
Hipotermia severa
Entre os 30ºC e os 34ºC
Enquanto a temperatura interna desce a sensação de frio e de dor vai diminuindo, entra-se numa espécie de torpor. A pessoa pode deixar de tremer e a insensibilidade pode dar origem a lesões graves sem se dar por isso. A perda de consciência e a dilatação das pupilas são típicas desta fase.
Abaixo dos 30 graus há risco de vida. Por volta dos 27 graus de temperatura interna a pessoa entra em coma. Em regra, o coração para aos 20ºC e o cérebro deixa de funcionar aos 17ºC.
O que fazer em caso de hipotermia
Ligar o 112
Tentar proteger a vítima do frio e garantir que tem roupas secas.
Manter a cabeça, a nuca, as coxas e o tórax especialmente aquecidos.
Em caso de hipotermia moderada ajudar a pessoa a movimentar-se e dar-lhe bebidas quentes. Nunca dar bebidas com cafeína (chá e café) ou bebidas alcoólicas (na verdade, baixam a temperatura do corpo).
Queimaduras
A exposição prolongada a temperaturas muito baixas pode causar queimaduras pelo frio nas extremidades do corpo: nariz, orelhas, bochechas, dedos das mãos e dos pés. Estão mais expostas ao frio, por outro lado, à medida que o organismo tenta proteger os órgãos internos, reduz o fluxo sanguíneo para as extremidades.
O primeiro sintoma é dor nestas zonas do corpo, segue-se a sensação de formigueiro e adormecimento, depois insensibilidade às lesões porque o frio tem um efeito anestésico. A queimadura pode atingir só a pele quando esta se mantém macia, ou pode ser mais profunda e atingir também os tecidos cutaneos, a pele fica então rija como se estivesse encerada. As extremidades podem mesmo gelar. As lesões causadas pelo frio podem resultar em danos irreversíveis e obrigar a amputações.
O que fazer
Procurar assistência médica
Tentar aquecer a vítima
Tentar aquecer gradualmente as partes do corpo atingidas (pode usar água morna ou o calor do seu próprio corpo)
O que não fazer
Nunca esfregar
Nunca mergulhar em água quente
Nunca aproximar de fontes secas de calor, como o fogo
Outros efeitos do frio
O frio é responsável pelo agravamento de doenças, sobretudo respiratórias e
cardíacas.
Cuidados
O país tem planos regionais para vagas de frio. Um deles é o de Lisboa e Vale do Tejo. Para informações específicas deve consultar o seu município ou a proteção civil regional.
Fotos: João Paulo Marques
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